Doutorado: Registro Paleomagnético e Mineralogia Magnética de Sucessões Sedimentares Neoproterozoicas do Gondwana Ocidental

Data

Horário de início

10:00

Local

Auditório 1 "Kenkichi Fujimori" (P217) – IAG/USP (Rua do Matão, 1226 - Cidade Universitária)

Defesa de tese de doutorado
Estudante: Thales Pescarini
Programa: Geofísica
Título: “Registro Paleomagnético e Mineralogia Magnética de Sucessões Sedimentares Neoproterozoicas do Gondwana Ocidental"
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Ivan F. da Trindade - IAG/USP

Comissão Julgadora:

  1. Prof. Dr. Ricardo Ivan Ferreira da Trindade – IAG/USP
  2. Prof. Dr. Andrew John Biggin - University of Liverpool
  3. Prof. Dr. Mathew Michael Domeier - University of Oslo
  4. Prof. Dr. Augusto Ernesto Rapalini - Universidad de Buenos Aires
  5. Profa Dra. Daniele Cornellio de Paiva Caldeira Brandt – IAG/USP

Resumo: 

Esta tese investiga o registro paleomagnético e a mineralogia magnética de sucessões sedimentares neoproterozoicas distribuídas em diferentes margens cratônicas do Gondwana Ocidental, com o objetivo de compreender o momento, os mecanismos e o contexto tectônico de uma remagnetização em larga escala associada às fases finais de amalgamação do supercontinente. Foram integrados dados paleomagnéticos, magnéticos e mineralógicos de três unidades-chave: Formação Maieberg (Cráton do Congo), Grupo Nama (Cráton Kalahari) e Grupo Corumbá (Cráton Amazônico), permitindo uma avaliação multicratônica das magnetizações secundárias associadas ao ciclo orogênico Pan-Africano–Brasiliano. Na Formação Maieberg (~635 Ma), dolomitos de capa sobrepostos a diamictitos marinoanos no norte da Namíbia apresentam duas componentes de remanência: C1, interpretada como magnetização primária ou pós-deposicional precoce, e C2, uma remanência termocímica associada à magnetita autigênica de grão fino. Estimativas de paleolatitude obtidas a partir de C1 posicionam o Cráton do Congo em ~33°S após o evento Snowball Earth. As diferenças entre C1 e C2 em coerção, mineralogia e estado de domínio indicam que a C2 representa um overprint, provavelmente relacionado à diagênese de argilas e posterior relaxamento térmico. O Grupo Nama, uma sucessão terminal do Ediacarano na região de antepaís das faixas Damara-Gariep, foi estudado a partir de testemunhos de sondagem submetidos a análises magnéticas detalhadas. Uma remagnetização de polaridade reversa (C2) foi identificada, transportada por magnetita de domínio simples e pirrotita monoclínica, com temperaturas de desbloqueio entre 320 e 450 °C. A presença de grãos estáveis e partículas superparamagnéticas, juntamente com parâmetros de coerção e maturidade térmica das rochas, favorece uma origem termoviscológica adquirida durante soterramento prolongado. A idade da remagnetização (490–470 Ma) é compatível com o final da orogenia Damara e é interpretada como pós-orogênica e regional. No Grupo Corumbá, exposto na Faixa Paraguai, observam-se remanências transportadas por pirrotita e magnetita SD, com fração significativa de material superparamagnético. Os resultados paleomagnéticos indicam rotações verticais no sentido anti-horário de 40–90°, sugerindo deformações tardias que coincidem ou sucedem a remagnetização. As distribuições de temperatura de bloqueio e as propriedades magnéticas sustentam uma remagnetização termoviscológica adquirida durante soterramento e bloqueada durante o resfriamento tectônico, entre ~500–480 Ma. Para testar a viabilidade física do mecanismo termoviscológico, dados térmicos e magnéticos do Grupo Nama foram usados para construir um modelo termotectônico. Espectroscopia Raman da matéria orgânica revelou temperaturas de soterramento entre 300 e 350 °C, compatíveis com fácies xisto verde. Esses dados foram combinados a modelagens baseadas na teoria de relaxamento de Néel. Os tempos de relaxamento e as distribuições de temperatura de bloqueio indicam que a remanência adquirida durante o aquecimento orogênico pode ter sido estabilizada durante o resfriamento tectônico a taxas de ~1 °C/Ma. Em conjunto, esta tese propõe que a remagnetização em larga escala do Gondwana Ocidental é um fenômeno termotectônico, resultante do aquecimento durante orogenias e subsequente resfriamento pós-tectônico. A integração de dados mineralógicos, magnéticos e térmicos fornece uma nova base física para interpretar as magnetizações secundárias amplamente observadas em bacias sedimentares neoproterozoicas ao longo do megacontinente.


Palavras- chave: Paleomagnetismo, Magnetismo de rocha, Mineralogia magnética, Gondwana, Neoproterozoico, Ediacarano, Cambriano, Paleogeografia, Remagnetização